terça-feira, 23 de agosto de 2011

Justiça chama Deus de homofóbico


Foto: Defensoria Pública de SP/Divulgação
Ou não? Afinal, o referido outdoor continha apenas três versículos da Bíblia. 


Em recente reportagem do Terra tomamos conhecimento que a Justiça de Ribeirão Preto, interior de SP, determinou a retirada de um outdoor considerado homofóbico.

Em entrevista ao site Portal Cristão News, o pastor Antônio Hernandez Lopes, da Casa de Oração de Ribeirão Preto (SP), lamenta a decisão da Justiça de, a pedido da Defensoria Pública do Estado, retirar um outdoor considerado homofóbico. O painel, carimbado com o apoio da casa evangélica, continha três citações bíblicas, entre as quais um trecho do Levítico que sustenta que "se também um homem se deitar com outro homem, como se fosse mulher, ambos praticaram coisa abominável".

"Não estou chorando porque estou com medo. Estou chorando porque estou vendo uma igreja morta! Dormi em um país democrático e acordei em um país ditatorial!", protestou o pastor, que diz agora estar acessível apenas a fiéis. "O fone da igreja eu desliguei. Só mantenho o fone pessoal celular no qual eu atendo as ovelhas."

A decisão da Justiça ocorreu dois dias antes da realização da 7ª Parada do Orgulho LGBTT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) da cidade, que aconteceu no domingo, e determina multa de R$ 10 mil para cada ato de descumprimento da decisão. Procurada pelo Terra, a Nóbile Painéis, responsável pelo outdoor e também citada pela Defensoria, disse que não comentaria o assunto.

O que estamos assistindo (e vai recrudescer!) é um processo político onde as partes testarão os seus limites.

Até os recentes embates, nunca tivemos notícia de igreja ou qualquer tipo entidade de cunho religioso fazendo campanhas de propaganda desta natureza e tema, ainda que nenhuma lei impedisse tal iniciativa.

O que vemos costumeiramente são ações da Igreja Católica, em especial as da campanha da fraternidade da CNBB, em geral em favor da família. Também comuns são as iniciativas envolvendo os temas do aborto e o uso de anticoncepcionais.

As iniciativas das igrejas evangélicas são pouco lembradas.

Muito embora as campanhas da ICAR promovendo a virgindade, o uso de contraceptivos e contrárias ao aborto encontrem muita crítica na mídia secular, sendo costumeiramente tratadas de forma irônica e, por vezes agressiva, desconhecemos qualquer iniciativa de censura ou demanda judicial em que tais propagandas tivessem sido retiradas por decisão da justiça. Se isto em algum momento ocorreu no país, o fato foi considerado irrelevante pela mídia.

Considerando que os temas supra envolvem uma parcela da população muito mais significativa do que os grupos da diversidade sexual e, em termos relativos e absolutos, encontram muito menos simpatia da população em geral praticante, sem restrição, dos métodos contraceptivos e, embora possa até declarar ojeriza, é conivente com os números absurdos de vidas ceifadas pelo aborto, eu me pergunto: Não estamos diante de uma clara restrição aos direitos de expressão?

A igreja tem todo o direito de promover os seus valores, assim como qualquer outro grupo e, obviamente, tais direitos sempre irão desagradar alguém.

Até o presente momento a justiça tem negado o direito da igreja de se expressar enquanto garante amplos e irrestritos direitos ao movimento gay de fazê-lo. Contra fatos, não há argumentos.

Para mim fica claro que, agindo assim, parcela do poder judiciário prejudica qualquer processo de convivência pacífica entre as partes, enquanto contribui para a clara restrição dos direitos de expressão dos brasileiros.

Obviamente, o papel histórico do poder judiciário se perdeu diante das recentes medidas do STF que decidiu romper os limites de suas atribuições e legislar e, agora, influencia outras instâncias que abandonam o seu papel de conciliação e contribui para o acirramento dos ânimos, na medida em que não garante o mesmo direito de manifestação e expressão a todos.

Eu tenho a impressão, que se os direitos de manifestação dos religiosos não estivessem sob ameaça, assim como não estão os direitos de todos os demais movimentos populares deste país, este assunto já estaria esquecido e estaríamos em paz, cada qual vivendo segundo suas escolhas, crenças e (des)governo*.



* Posto que se Deus não decreta naquela vida será, na melhor das hipóteses, a acepção mundana do termo segundo "O que será" de Chico Buarque, pois não há lei que dê governo ao que não se pode governar; o Que está na fantasia dos infelizes; o Que está no dia a dia das meretrizes; O que será, que será? O que não tem decência nem nunca terá; Que todos os avisos não vão evitar; Por que não tem juízo! Ou como disse São Paulo: "Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças: não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens? Pois que todas estas cousas, com o uso, se destroem. Tais cousas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a sensualidade" (Colossenses 2:20-23).

do Genizah

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